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quarta-feira, 10 de março de 2010

Conheça um pouco da história do Haiti.

Haiti
Ajuda humanitária: possibilidades e dificuldades
Por Ederson Santos Lima
22/01/2010
Estimativas que vão desde cem mil até duzentas mil vítimas fizeram com que a própria ONU considerasse o terremoto do Haiti como a pior tragédia já enfrentada pela organização em toda a sua história. Colocar o país novamente nos trilhos não será tarefa fácil e muito menos barata. A ONU divulgou que serão necessários 560 milhões de dólares em doações para o trabalho humanitário.
Remédios, comida, água, camas, colchões, roupas, barracas, material para resgate, máquinas para retirar os escombros das construções demolidas, enfim todo tipo de ajuda é necessário. Mas como chegar até a ilha caribenha se a estrutura do único aeroporto foi parcialmente destruída? Se poucas estradas são pavimentadas? Se gangues urbanas ( streets gangs ) voltaram com força após a missão brasileira no país as ter controlado?
O desastre do Haiti tem concentrado, acima das expectativas, esforços de todas as entidades possíveis: governos (dezenas de países), ONGs (como, por exemplo, Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha Internacional, Viva Rio, entre outras), bancos de fomento como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), além de empresas particulares (como a GM) e também pessoas (como os atores Brad Pitt e Angelina Jolie e a modelo Gisele Bündchen) que, isoladamente, têm doado dinheiro de forma voluntária. No caso norte-americano, ocorreu a maior doação via celular da história: em poucas horas, 10 milhões de dólares foram arrecadados pela Cruz Vermelha através de um número especialmente criado para esse fim e para o qual os cidadãos enviavam torpedos com a palavra Haiti.
Mas como organizar todo esse volume de dinheiro? Como distribuir remédios e comida? Como acomodar o interesse dos países e governos que estão se mobilizando na área, como Brasil e EUA.
A primeira pergunta seria facilmente respondida se o Haiti tivesse um governo regularmente estabelecido e em condições de gerenciar os recursos. Mas, infelizmente, essa não é a realidade. A sede do governo foi destruída pelo terremoto e há poucas pessoas capazes desse trabalho no staff governamental local. Além disso, os altíssimos índices de corrupção — que, segundo a Transparência Internacional, fazem com que o Haiti ocupe a 168º posição
em um ranking entre países corruptos — geram certa intranquilidade entre possíveis doadores.
Alguns propõem que o dinheiro arrecadado seja administrado por uma comissão externa a todos os envolvidos na ajuda humanitária, outros defendem a ideia de que os haitianos e a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) gerenciem os recursos e, para outros ainda, Brasil, os EUA e o governo do Haiti devem somar esforços de forma conjunta no controle e gerenciamento dos recursos.
Essa situação, que à primeira vista poderia ser interpretada como de fácil resolução, não é. Um exemplo disso é o caso do aeroporto de Porto Príncipe, ocupado por tropas norte-americanas que passaram a controlar pousos e decolagens. Elas têm sido acusadas por vários países, como Brasil, França e Argentina, de estarem dificultando os pousos com ajuda humanitária desses países e priorizando o desembarque de soldados norte-americanos e a saída de cidadãos estadunidenses. Alguns aviões estão levando até quatro horas para conseguir pousar em solo haitiano. Pelo menos essa questão já foi resolvida parcialmente: os americanos ficaram com o controle interno do aeroporto, inclusive dos radares, e o Brasil com a responsabilidade pela área externa desse local.


O terrível século XX do Haiti

Mesmo tendo se tornado independente da França em 1804 e sido a primeira colônia da América Latina a conquistar a liberdade junto às metrópoles europeias, o Haiti só teve eleições diretas para presidente em 1957, quando o médico sanitarista François Duvalier foi eleito. Querido pelo povo haitiano por sua luta contra a malária, um mal que assolava o país, Duvalier foi apelidado de Papa Doc, ou seja, Papai Médico.

Papa Doc.
AFP Photos
Mas o encanto durou pouco: o “papai médico” logo mostrou sua face de monstro e passou a implantar uma ditadura ferrenha que perseguia, torturava e matava dissidentes e proibia partidos políticos de oposição. Em 1961 se reelegeu à custa de corrupção e fraudes e em 1964 proclamou-se presidente vitalício. Para conseguir tudo isso, montou um verdadeiro batalhão do terror: os tontons-macoutes, que no imaginário popular da ilha é uma forma de bicho-papão. O saldo dessa fase, que durou até 1971, foi de aproximadamente 30 mil mortos, 15 mil desaparecidos e uma enorme dívida externa. Mas quem pensava que o pesadelo chamado Papa Doc tinha terminado enganou-se. Em seu lugar, acabou assumindo seu filho, Baby Doc, que continuou com a mesma política devastadora em todos os sentidos tanto econômica quanto socialmente. Na fase Baby Doc (1971-1986), houve uma fuga de, aproximadamente, meio milhão de haitianos para países vizinhos como Cuba, República Dominicana e também para os EUA.

Papa Doc e Baby Doc.
AFP Photos
Com o fim da tragédia imposta pela família Duvalier, o Haiti passou por um pequeno período turbulento (1986-1990) até que conseguiu eleger democraticamente o padre católico Jean-Bertrand Aristide, que no ano seguinte à eleição (1990) seria deposto por um golpe militar. Aí começava mais um calvário na vida do povo do Haiti. Destituído em 1991, Aristide foi recolocado no poder pelos norte-americanos para que pudesse terminar o mandato para o qual fora legalmente eleito (1990-1996). Seu sucessor foi René Préval cujo mandato terminou em 2001. Ele foi substituído por Aristide, que obtivera a reeleição e voltava ao poder. Em 2004, porém, foi novamente confrontado por oposicionistas e acabou renunciando ao cargo, jogando o Haiti na mais profunda crise econômica e política de sua história que desembocaria na Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) liderada pelo Brasil.
As crises políticas dos anos 90, como o golpe que destituiu Aristide (1991) e sua renúncia em 2004, provocaram um retrocesso violento na já frágil economia haitiana. Em 1991, o golpe fez com que as exportações do país caíssem 40% e a economia recuasse em 30% entre 1992-1994.
Com a chegada da missão humanitário-militar brasileira ao Haiti em 2004, lentamente a economia se recuperava. Com o terremoto, o futuro do Haiti não somente estará nas mãos dos deuses, mas também da ONU, do atual governo haitiano e dos investimentos particulares em indústrias e infraestrutura.

A Minustah e o papel do Brasil

Em 2004, com a renúncia de Jean-Bertrand Aristide, o Haiti novamente brecava seu já lento desenvolvimento e caminhava a passos largos para uma verdadeira anarquia política, econômica e social. Na busca de uma solução para os problemas do país, a ONU criou uma missão especial chamada Minustah — Missão de Paz das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti. Essa missão especial é liderada pelo exército brasileiro, com um mandato oficial que se prolongaria até 2011. Porém, o terremoto já desenha previsões para a permanência brasileira até 2015, segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Até a ocorrência da tragédia natural, a missão brasileira era composta de 1266 militares, com previsão de aumento.
O objetivo da Minustah, que além de brasileiros conta com militares dos mais diferentes países, é manter a ordem e a segurança nas principais cidades do país. De acordo com os relatos militares e as ONGs lá presentes, a missão chefiada pelos brasileiros estava muito perto de atingir uma situação que podia ser denominada de “sob controle”. Um dos principais pontos atacados pelos brasileiros na Minustah foram as gangues urbanas que desestabilizaram o país alguns anos atrás e eram usadas politicamente para atacar adversários políticos. Muitas foram desmembradas e presas. Porém, o terremoto fez com que o maior presídio do país viesse a ruir e calcula-se que, aproximadamente, 4000 presos tenham escapado. Em virtude disso, notícias internacionais já relatam a volta da ação dos comandos e das gangues nos bairros da capital. A Minustah deve receber um grande reforço com a chegada de dez mil soldados norte-americanos, além de novos destacamentos brasileiros para tentar controlar a situação que, com o terremoto, ameaça novamente fugir ao controle das forças da ONU.
Apesar do sucesso da Minustah, seu futuro vai depender dos interesses norte-americanos que buscam aproveitar o momento para uma reaproximação com a América Latina e em especial com o próprio Haiti do qual havia se afastado desde a renúncia de Jean-Bertrand Aristide, em 2004.

Dicas
Assista também ao vídeo O dia em que o Brasil esteve aqui dos diretores Caíto Ortiz e João Dornelas, que registrou o dia em que a seleção pentacampeã do mundo disputou um amistoso com a seleção do Haiti.
Haitianismo: uma maldição na história haitiana?

Quando, no final do século XVIII e início do XIX (1791-1804), a “pérola das Antilhas”, a mais rica colônia francesa, obteve sua independência — liderada por ex-escravos como Toussaint L’Ouverture, Jean-Jacques Dessalines e Alexandre Pétion —, era como se uma luz de esperança houvesse se acendido em solo americano a iluminar milhões de escravos que sofriam nas senzalas e nas plantações de algodão e de açúcar.

Toussaint Louverture (1743-1803)*, Jean-Jacques Dessalines (1760-1806) e Alexandre Pétion** (1770-1818).

* Figura de um grupo de gravuras feitas no pós-revolucionária França.
** Foi um líder revolucionário além de Presidente do Haiti.
Seria o norte para o qual todos aqueles que lutavam contra a opressão das metrópoles europeias deveriam seguir?
A independência de países latino-americanos ocorreria uma após a outra como em um jogo de dominó? Escravos tomariam o poder nas Américas?
Não, não foi isso que ocorreu. Ao contrário, uma revolução de escravos, com ideais que se assemelhavam aos da Revolução Francesa (1789-1799), trouxe um medo gigantesco a todo o continente americano.
As elites brancas e criollas que dominavam todo o continente passaram a ignorar o pequeno vizinho do Caribe, dando início a um calvário de isolamento político e econômico, que foi denominado pelos historiadores de haitianismo. Esse isolamento econômico provocou o enfraquecimento da infraestrutura produtiva do Haiti empobrecendo o país, que também sofria com lutas internas entre as próprias facções políticas haitianas.
Para dar um exemplo do medo que a independência feita por escravos causou em todo o continente americano, o então presidente norte-americano Thomas Jefferson, que era contrário à escravidão, chegou a oferecer ajuda à França para restabelecer o domínio colonial sobre o Haiti.
Os “libertadores da América” Francisco Miranda e Simon Bolívar viraram as costas para a ousadia haitiana. Miranda ficou com medo de que seu apoio ao Haiti pudesse manchar sua boa reputação na Europa e Bolívar — o mais famoso dos libertadores e que recebeu ajuda financeira do general haitiano Alexandre Pétion —, sequer convidou o Haiti para o Congresso do Panamá em 1826, em uma tentativa de implantar a ideia do pan-americanismo.
E no Brasil? Quais as repercussões da independência do Haiti?
Aqui alguns historiadores, como Jacob Gorender, chegam a afirmar que o haitianismo foi o elemento de união entre as elites brasileiras, fundamental no combate a qualquer tentativa nativa ou escrava de liberdade, como é o caso da Cabanagem no Pará (1835-1840) ou da Revolta dos Malês, em Salvador (1835).
Outros chamam a atenção para a influência do haitianismo sobre a Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico negreiro por medo de uma revolta escrava, e também sobre a imigração em massa de mão de obra branca europeia para substituir a escrava negra. Além disso, é importante destacar que os recursos que não estavam sendo utilizados na compra de africanos foram desviados, para as primeiras indústrias brasileiras. Portanto, é possível perceber que o movimento negro do Haiti repercutiu profundamente no continente americano, mas trouxe para a população uma pesada carga a ser carregada.
O terremoto de janeiro de 2010, apesar da luta e da dor, pode ser mais uma chance para o sofrido povo haitiano reencontrar seu sonho de liberdade, igualdade e fraternidade.

Bibliografia

CHAVES JR., Elizeu de Oliveira. Um olhar sobre o Haiti. São Paulo: LGE.

DIAS, Cristiano. O vizinho que ninguém quer ter. O Estado de São Paulo, São Paulo, 17 jan. 2010. Internacional, A-19.

DONGUI, Túlio Halperin. História da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.

HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

MICHALANY, Douglas. História das Américas. São Paulo: A Grande Enciclopédia da Vida.

TAPAJÓS, Vicente. História da América. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1974.

2 comentários:

De Olho nas Notícias! disse...

Gente, vale a pena ler o texto; ele é rico em informações para entendermos um pouco das dificuldades deste povo tão sofrido. Beijos.Tia Monalisa.

Aluno do 5º ano-Colégio Cristo Rei disse...

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